domingo, 28 de setembro de 2014

Raio que me… parto



Não sei se já vos tinha dito mas hoje celebro o primeiro aniversário da minha filha… É verdade! Nada melhor para celebrar a sua primeira semana de vida entre nós do que voltar a escrita.
Confesso que sempre segui com algum distanciamento tudo o que diz respeito ao parto e à sua logística (primeira roupinha, mala da mãe, mala da filha, ufaaa). Posto isto, acordei cedo há uma semana não para o dia mais longo da minha vida mas seguramente para o mais intenso.
A minha ignorância verificou-se logo na primeira etapa. Pensava eu que mal chegássemos ao hospital, o médico induziria a coisa e começava logo aí a grande jornada. Podem imaginar a minha surpresa quando o médico recomendou um passeio bem demorado no norteshopping e que voltássemos ao bloco de partos às 14h. Diria que este anúncio foi um forte revés na minha inocente ideia de que para quem chegasse ao hospital às 8 horas da manhã, seguramente já veria o Benfica às 17h com a criança nos braços.
Certo é que o passeio se revelou o clique que faltava para o desencadear das contrações. Passamos então a tarde de epidural em epidural com visitas regulares do staff do bloco pedindo licença para entrar (não na sala mas com os dedos na … hhhuuummm… pronto!!!). Confesso que essa parte foi um tanto ou quanto aborrecida ao ponto de me ter ocorrido dizer: “Mostre-me là como é que se mede isso e vamos usar só os meus dedos como unidade de medida” mas bom… aguentei-me!
Surgiu entretanto o médico, agulha de tricot em riste, proclamando: “vamos rebentar a bolsa”. Novamente, pensei que seria este o princípio do fim mas engano meu! Deu-se início apenas ao maior xixi que pude alguma vez presenciar. Evolução quase nula e um verdadeiro teste à paciência!
Chegaram as 20h (12 horas depois…) e as medidas ainda só atingiam 5 dedos! Nesse momento, pus para mim claramente em causa o significado da expressão: “tem uma boa hora!!!” qual quê?!?!? “Tem umas boas horas” é a expressão certa e que passarei a usar doravante. Bom, pensei eu… Vão provavelmente dar aqui um comprimido milagroso para andar com isto mais rápido se quisermos que nasça ainda no dia 21. Atentei às recomendações da enfermeira: “apaguem a luz e tentem dormir!!!”
Fonixe, dormir??? Ansioso pelo início da ação propriamente dita.
Apagamos então a luz da box e aproveitei para relaxar sentado no cadeirão reservado aos pais. Pela porta entreaberta, apercebi-me que trovejava no exterior enquanto os monitores piscavam os batimentos cardíacos da criança e as contrações da Lígia. Sentia-me numa cena de um filme do Hitchcock.
O certo é que uma hora e meia de relax surtiu efeitos completamente inesperados (para mim, claro!!!). A dilatação disparou e a enfermeira iniciou os primeiros pedidos: "Lígia, PUXA, PUXA PUXA… FAZ CÓCÓ… PUXA, PUXA, PUXA…"
Pensei para mim: deve haver uma forma mais elegante de dizer "FAZ CÓCÓ" mas bom, não devo pôr em causa o trabalho da experiente parteira e mantive-me no meu canto a segurar na mão direita da Lígia até que…
A enfermeira pede a pobre mãe para se levantar, aproveitar a força da gravidade e fazer força em pé… Aí não aguentei e coloquei-me a meio metro (distância que nos meus cálculos dariam para agarrar a criança num movimento instintivo mal visse a cabeça a aparecer). Fiquei muito mais descansado após o regresso a cama mas pelo sim pelo não, não mais arredei pé dali. O meu instinto protetor assim o exigia. Vai daí, a Lígia passou então a fazer força com o pé direito na anca da enfermeira e com o pé esquerdo na minha enquanto eu segurava o seu joelho com uma mão e a sua mão com a outra. E aí iniciamos os puxanços em conjunto… sim, em conjunto, porque sempre que os dígitos das contrações aumentavam no monitor, fazia com a Lígia involuntariamente a maior força que já fiz (não para fazer cócó mas ao contrário, não vale a pena entrar em detalhe!) ao ponto de começar a sangrar do nariz quando a bébé finalmente nasceu. Creio que foi a nossa maior batalha em conjunto, não que eu lutasse como ela mas nunca esquecerei a nossa troca de olhares naquela hora, como se comunicássemos sem abrir a boca. “não vou conseguir” dizia-me ela aflita com um olhar, “tem calma, relaxa até à próxima contração… vais ver que consegues” respondia-lhe eu apertando repetidamente a sua mão.
Os momentos que se seguiram são coisas que ainda hoje, uma semana depois, me arrepio só de pensar… O aparecimento da cabeça, a forma rápida como o resto do corpo saiu, o primeiro choro da Isabel, o corte do cordão umbilical com a tia ao lado (não teremos nunca palavras para agradecer o teu apoio nesse dia! OBRIGADO tia Isabel) tão nervosa que não conseguiu acertar com a fotografia, o colocar da bébé no peito da mãe… As lágrimas escorriam-me pelo rosto sem que eu conseguisse retê-las enquanto eu comunicava o nascimento da nossa pikena por SMS à família que, ansiosa, esperou o dia todo. Recordo ainda a primeira chamada da cunhada em que as palavras bem definidas na minha mente não conseguiam sair-me pela boca.
QUE MOMENTO!!! Hoje entendo... A maior alegria de uma vida é sem dúvida dar início a uma nova vida…

2 comentários:

  1. Que emoção Filipe! Muitas Felicidades para esta nova etapa das vossas vidas. Beijinhos

    Sandra Sá

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  2. Além da eNorme felicitação que vos dou só me ocorre dizer , depois de ler este texto, qd chegar a minha vez será cesariana. Agulhas de croché, Cocó, tantos dedos...fogo...
    Parabéns!

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