sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Saramariku Casablanca

Saramariku = bãodia

Hoje conheci uma figura!!! É verdade… Conheci um muçulmano que mudou completamente a ideia fundamentalista que cultivo há muito sobre este povo!
Nunca antes tinha tido o direito a uma escala de 5 horas num aeroporto. Depois de dias de trabalho intensivo… mesmo intensivo… decidi oferecer-me a mim mesmo um pequeno passeio de táxi pela cidade de Casablanca!
A verdade é k, carregado de receio e com o portátil cada vez mais pesado a “esganar-me” o ombro, là fui mas tive imensa sorte no taxista que me calhou, Harcmed de seu nome!!!
Pinto facilmente o quadro do senhor: Baixo, moreno café com leite, super magro, na casa dos 50 mas parecendo já com mais de 70 anos. Uma figura normal que se distinguia pelo sorriso fácil evidenciando sem qualquer complexo a sua imagem de marca: um único dente da frente numa boca queimada pelo tabaco.
A conversa decorreu serenamente: “então que há para ver em Casablanca?”… “Et bien pas grand chose!” respondeu anulando de imediato o meu entusiasmo. “Esta cidade é sobretudo industrial e comercial… a única coisa a não perder é a grande mesquita”. Isto para dizer que a minha visita valeu pela treta com o homem porque não passou de uma rápida viagem à cidade uma vez que a mesquita estava fechada para as rezas de Sexta-Feira.
Aproveitei assim para avançar com uma conversa cultural com o meu guia que, rapidamente me tirou a pinta (não percebo como?!) e me levou depois da mesquita para conhecer as melhores discos da cidade que, diga-se, às 8 da manhã eram obviamente de um gosto arquitectónico muito “sui generis”.
E foi assim de maneiras que tirei grandes dúvidas sobre o Corão e a relação dos marroquinos com grandes questões dos nossos dias: o casamento, o salário, os filhos e o álcool.
Fiquei a saber que um muçulmano, segundo a religião, pode ir até 4 mulheres desde que tenha capacidade financeira para sustentar 4 famílias mas atenção….. segundo a lei de Marrocos, um homem só pode casar com uma segunda mulher com autorização escrita da primeira e com a terceira mulher com autorização escrita da segunda e por aí fora!!! Isto não é cá casar a torto e a direito!!!! K pensam?!?
Informei-me ainda sobre o salário médio de um cidadão de Casablanca! A resposta foi rápida: cerca de 2.000 dirhams (o equivalente a 180 Euros) mas para comprar um Kg de legumes são precisos cerca de 10 dirhams e para um litro de gasóleo, 8; acrescentou o taxista com ar de quem me queria dizer: “poupadinho, até dá!!!!”
O grande ponto de discórdia com o meu novo amigo surgiu quando me perguntou o meu estado civil: “il faut se marier et avoir des enfants” repetiu ele vezes sem conta. "Intchalá" respondia eu! Para que saibam, essa palavra que, com certeza escrevo com 2 ou 3 erros ortográficos é um dos termos mais importantes do vocabulário muçulmano. A verdade é que eles acreditam que o destino de cada um está previamente escrito e daí invocarem essas mesmas escrituras como quem: “Oxalá isso esteja escrito!”
Quanto ao álcool, os olhos do meu amigo Harcmed baixaram de tristeza quando perguntei sobre o consumo em Marrocos. Disse-me com algum pesar: “o bom dieu” não autoriza mas grande parte dos marroquinos bebe e pior, grande parte até mete atestado médico para fugir ao Ramadão assim como nós cristãos vamos pagar a Côngora (que, perdoem-me a ignorância mas se escreve côngrua) para não fazermos jejum na quaresma. O provedor deste blog salienta a ignorância do autor comentando que para um cristão se isentar de jejum na quaresma tem de pagar a bula e não côngrua...)
Aproveitei o resto da viagem para aprender um pouco de árabe que me foi bastante útil no final: “Chokran (obrigado) harcmed” disse-lhe dando-lhe todo o dinheiro que tinha comigo!
“Bslma” (adeus) respondeu ele, feliz por tão bela corrida mas ao mesmo tempo, triste por tão pouca conversa para tanto que havia para dizer... E assim, virou costas entoando o refrão: “Il faut se marier et avoir des enfants”


Som da semana: Carlos do Carmo - Os putos

4 comentários:

  1. Tens uma tendência inegável para aventuras engraçadas.

    O que mais me impressionou foi o facto do teu amável guia te ter levado logo a percorrer as ruas das Discos de Casablanca. Não enganas mesmo ninguém. Nem em Marrocos. Vá-se lá saber porquê ele olhou para ti e adivinhou!! :D

    Quanto ao "il faut se marier et avoir des enfants"... Já te estou a imaginar em pleno Twin's com o copo numa mão e a criança na outra, embalada ao som de temas marcantes!!! Sim, sim, Filipe, já estou mesmo a imaginar!!! Ahahahahah

    Beijo,
    Ana

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  2. Filipinho,não se diz côngora mas sim côngrua!! Mas depois dou-te umas dicas sobre o assunto!!:0)

    Beijos,
    Dineia

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  3. É sempre um momento bem passado, ler o teu blog!

    O teu amigo Harcmed podia ter só um dente, mas sem dúvida k estava mto sãozinho dos olhos... "com rezas à sexta-feira, o melhor mmo é ver os melhores sítios onde por certo o chá-zinho abunda"... esperto, ele.
    Apesar de até parecer um tipo simpático, a minha opinião sobre a cultura muçulmana não é mto abonatória... e assim continua.

    Mas, meu caro amigo, mais uma vez acho k podes dizer "ainda bem k sou português", por várias razões:
    1º- 2000 dirhams por mês... não é preciso ser mto bom a fazer contas... o nosso país está mal, mas tb não está tão mal assim.
    2º- Por esta altura, provavelmente já irias na 3ª família... e como comentaram (e mto bem) no post acima, já tou a ver o Twins a mudar o nome para Twinslândia e a servir suissinhos em vez de chá...
    3º- Terias de inventar um atestado médico contínuo (ou então terias mmo de mudar do chá-zinho para chá de jasmim), o k teria duas consequências nada agradáveis: seria motivo para perderes o lugar no paraíso para onde eles dizem k vão, e sempre de atestado com certeza não conseguirias sustentar as famílias todas.

    Shokran por este "passeio" por Casablanca.
    Bslama.
    T’halla f’rasak :-)
    APG

    Já agora, e aproveitando a vertente didáctica deste blog, para k não haja mais confusão entre côngrua, jejum e bula: a côngrua corresponde mais ao menos ao salário do padre; é paga anualmente, geralmente na altura da Páscoa, e cada paroquiano deve dar o correspondente a um dia de trabalho. O jejum (fazer apenas uma refeição normal durante o dia e nas outras jejuar) apenas é feito em 2 dias no ano: a 4ª feira de cinzas e a 6ª feira santa. A bula é paga por quem não quer fazer abstinência (não comer carne à sexta-feira) durante a quaresma; ou seja, a troco de uns cobrezitos, a dita carne transforma-se em peixe e está tudo bem..
    Bem vistas as coisas, acho k os marroquinos até são mais correcos ao meterem atestado...

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  4. Poes-te a escrever chiquisses em francês e ninguem percebe o que dizes no blog… :0)

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